A História de Andino - 1º ATO (parte 4)

Ikko acorda na Prisão do Castelo.

Ikko – Oh escuro doloroso que não sai de sua redoma. Oh dolorosos sussurros que me faz abrir os olhos, porque me acordaste? Não sabes que assim não posso sonhar. Eis que sonhava com meu filho que deixei com outro pai, o alfaiate. (risos) Acorde! Chamas! Ai! Minha cabeça dói. Só pode ser dor na consciência de ter me deitado com a mulher dele. (barulho de porta) O que é isso, será o alfaiate? Faça-me outra roupa, esta fora surrada pelos homens do rei.


Entra o guarda da prisão.

Guarda – Seu almoço! (sai o guarda)
Ikko – Obrigado meu amado. Já me era sem fim meu passar. (barulho de porta) Oh! Vieste me fazer companhia em meu banquete?
Élle – O que fazes aqui prisioneiro?
Ikko – Se não é o fim! Oh cabeça sem partes, onde foi parar sua realidade. Essa alienação levar-me-á a morte.
Élle – Falas engraçado. Por que se veste que nem um palhaço de luto?

Ikko – Afasta-te de mim, assombração. Penumbra maldita.
Élle – Pareces que saíste de uma fábula.
Ikko – E saí, pequena assombração. De uma linda fábula, onde eu era o melhor mágico de toda a terra.
Élle – És um mágico? Ordeno-te que faças uma mágica!
Ikko – Meus artefatos ficaram em minha fábula.
Élle – Ordeno-te que vá buscar seus artefatos e faça uma mágica.
Ikko – Oh vaga lembrança que te traz. Quem és tu, alminha penada?
Élle – Sou a princesa Élle.
Ikko – Oh! Agora me recordo de tua face. Sua desgraçada. Morra!

Ikko, sem nenhum motivo aparente, atira um pão em direção a Élle, que corre.
Na sala real o rei recebe a Jadeão e o capitão das tropas do castelo. Diz o rei a Jadeão:

Rei – Não confunda reconhecimento dos fatos com admiração. Fizeste o que fora preciso e saiu-se vitorioso com a vitória popular.
Capitão – Com toda aquela marcha e todo preparativo de guerra, eu teria trazido pelo menos duzentos prisioneiros, tu fizeste apenas um.
Rei – Tocando tu neste assunto, meu valente capitão. Lembro-me, Jadeão, que me disseste que prendeu um jovem e apenas um jovem forasteiro.
Jadeão – Exatamente isso e por não me apresentar perigo sendo um peregrino solitário dei a ele a liberdade no meio da marcha de volta ao castelo.
Capitão – Então o que ele fez para estar em nossa prisão? De certo o tratou muito bem, para que ele não queira sair do seu lado.
Jadeão – Aquele pequeno bastardo é um lunático temeroso! Imagineis vós que me atacou diante de todos os meus homens, logo após eu dar-lhe a liberdade.
Rei – Certo é que ele tem mais raiva de ti do que amor à própria vida.
Jadeão – Ou julga ter tanto amor pela vida que não estragaria a ela guardando essa raiva, mesmo que consumá-la em ato fatal custasse a própria amada.
Rei – A curiosidade me desperta diante desses acontecimentos.
Capitão – Imagine, meu senhor. É apenas um bastardo.
Rei – Assim como todos nós seriamos sem nossas espadas, coroas e mães. Tragam-no aqui.
Capitão – Farei-o como deseja meu amado rei.

Enquanto isso na cidade de Kolkuti. Na casa do alfaiate. O alfaiate se admira com o filho, que ele pensa ser dele.

Alfaiate – Mulher minha, o que é que sinto em meu peito, que faz minha cabeça doer, mas não é amor, que me desatina a alma e traz-me infelicidade?
Ofélia – Tens trabalhado muito ultimamente, não paraste mais em casa, passas as noites em claro trabalhando, esta não é a vida de um homem.
Alfaiate – Mas preciso ganhar a vida, a fim de te sustentar.
Ofélia – Demasiaste na conta das horas suadas. Deveste passar mais tempo com seu filho. Não vestes tu que ele cresce afastado de ti? Faz isso pela falta de atenção paterna.
Alfaiate – Levo-o para trabalhar comigo, mas ele insiste em se meter com estudos.
Ofélia – É do que gosta.
Alfaiate – Mas assim, tão novo?
Ofélia – É um menino especial, deverias tu ver que já escreve o próprio nome.
Alfaiate – Essa não é a vida que quero para ele! Deves prestar a ter calos.
Ofélia – Não o magoe. Faz isso, pois tem a cabeça do pai, uma mente brilhante.
Alfaiate – Nisso não nego. Herdou de mim uma genialidade sem igual.

Na sala real, o rei pede para que Jadeão se retire, a fim de que a imagem dele não enfureça o jovem Ikko. Pouco mais tarde entra um guarda com Ikko acorrentado.

Guarda I – Aqui está o prisioneiro Vossa Majestade.
Rei – Deixe-o livre, não fará mal algum com meu capitão aqui – o guarda sai e o rei diz a Ikko – Ora, és mais jovem do que eu pensava... Está aqui você, perante o rei João, conhecido por todos por ser um rei justo, porém por alguns, diria uma ínfima minoria, como tirano. Diga-me qual é teu nome?
Ikko – Ikko Habnool.
Rei – De que parte do meu reinado vieste?
Ikko – De Random.
Rei – Ah! Está explicado agora esse traje, és mágico, não és?
Ikko – Sim, alteza.
Rei – Mesmo sendo tu da segunda linha de pensamento, onde a sombra de minha tirania paira sobre toda a terra, prestas a mim homenagem de rei, ajoelhando-se e baixando sua cabeça ao pó.
Capitão – Por que reverencia o senhor de todo o mal do povo? Por acaso esqueceste que está diante de um tirano? E que ele aprisiona homens justos como você?
Ikko – Não o reverencio e tão pouco me humilho a ti, oh rei. Não obstante minha cabeça baixa sem temor de humilhação, pois sei que a inteligência está dentro dela, não acima. E digo a ti, senhor da espada suicida, não aprisionaste um homem justo, pois abaixo do Sol não há mais justiça e todo homem que sai do ventre de uma mulher está condenado.
Rei – Condenado à que? A mim? Por mim?
Ikko – Não grandioso rei. Tu passaste longe de ser a condenação do povo.
Capitão – Então quem os condena?
Ikko – Eles mesmos. Estão condenados a viver num mundo de ilusão, a cada passo de sua vida. Criam falsas especulações para si, mentem, a fim de esconderem seus temores e sua covardia. Já não abrem mais suas caixas de pandora para usufruir dela na conquista da felicidade como um bem comum. Acreditam em suas próprias mentiras, tornado-as verdades.
Rei – Não entendo. Porém me diga, há no mundo remédio para tal confronto consigo mesmo?
Ikko – Digo que dei meus olhos para vocês compreenderem e entenderem que à realidade irão ver, porém nela não acreditarão.  Não sabem do que digo, mas crerão quando olhar. Já disse que não irão acreditar e nem todos poderão enfrentar, tão forte é a realidade, que na mentira preferirão morar. A mentira e a ilusão um dia cessarão, está dentro do coração que nem sentimentos têm. Como podem confiar em alguém que nem sabem de onde provém e que mesmo não vivendo controla a vida de todos e ficam solitariamente sofrendo?
Tanto sofrimento não os ajudará em todos os mistérios vocês solucionar, todo o mundo enlouquecerá quando descobrirem que é falso o que crêem. Para vocês não será o bastante olhar, terão de sentir e tocar, pois tão forte é a realidade que preferirão na mentira morar.
Novamente digo: A mentira e a ilusão um dia cessarão, está dentro do coração que nem sentimentos têm.
Suas palavras soavam como proféticas, envolvedoras e mágicas. Enquanto dizia essas palavras Élle entrou de súbito gritando:

Élle – Papai, papai, foi ele! Esse palhaço me atirou um pão.

O capitão que está ao lado direito de Ikko se distraiu ao ver Élle entrando, virando de costas para Ikko, a fim de ver Élle, ele é surpreendido por Ikko que toma a espada de sua mão e girando grita:

Ikko – Ataque espada suicida!

Ikko com um giro corta o pescoço do capitão e toma Élle em suas mãos, aponta a espada para o peito dela.
Desesperado, o rei suplica pela vida de sua filha.

Rei – Oh filho da escuridão que se revela, besta maligna! Ordeno-te que soltes minha filha!
Ikko – Não! Ela deve morrer!
Rei – Não faça isso seu maligno! Dou-te a liberdade e o que mais quiseres.
Ikko – Não irei à parte alguma com esta menina viva. Eis que tive uma visão e vi esta princesa maligna...

Enquanto falava entra um arqueiro que atira uma flecha em Ikko. Que grita:

Ikko – Oh miserável.

De súbito, o rei aproveita o reflexo de Ikko que ao ser atingido olhou para trás e embala Élle em seus braços. Mas Ikko dá mais uma investida contra a menina:

Ikko – Morra, oh escuridão!

E avança um golpe em Élle, mas acerta o rei, que cai. Outros guardas entram e acertam Ikko com flechadas e espadadas. Ikko cai e morre. O Rei morre.

Comentários

Postagens mais visitadas