A História de Andino - 2º ATO (parte 2)

Nenhum beijo a mais, aquele havia sido o único beijo de nossas vidas. Pelo menos não de verdade, pois os imaginei de diversas maneiras nas minhas noites mal dormidas. Sei que devo fazer mais, mas algo me impede. Meu amigo me perguntou se eu já tinha falado com ela que eu estava apaixonado, eu não mentia, disse que não. Nunca me declarei para ela. Até certo dia que depois de sair e ficar bêbado com esses amigos fui até a casa da duquesa, pois sabia que Élle estava lá e declarei meus sentimentos para ela. Foi tão patético e tão assustador.
Quando Élle me ouviu dizendo que a amava, ela emudeceu. Foi para dentro da casa, onde estava com a duquesa Juliana. Depois disso voltei para casa chorando feito uma criança. E ela, segundo a duquesa, ficou em estado de choque. Só repetia as mesmas palavras a noite toda:

Élle – O Andino disse que me ama.


Se ela não gostava de mim, porque ficou tão abalada? Só você entrou na minha vida, entrou no meu coração e estragou a minha festa. Entrou na minha vida por uma fresta que deixei em meu portão, pois só assim eu saberia como lhe encontrar. Eu já sei que você estará lá e também que não poderia lhe tocar.
Eu traria o Sol de outro mundo, viveria sem saber de tudo, só para saber se comigo quer estar.
Jogaria cartas até de noite, para provar que posso lhe ganhar, assim como ganhei em tudo.
E até falaria calmo para todos entenderem que você não é o que me disserem e nem o que me derem. É aquilo que fujo por saber que não posso ter.
Não traria o Sol de outro mundo, nem viveria sem saber de tudo e nem saberia que não posso lhe ter.
Ontem eu traria o Sol de outro mundo só para saber se posso a ter. Mas hoje não traria só para não saber que não poderia.
Poetas que sou, não sei amar. Amo nas curvas e vejo aquele olhar. Deixo os meus sentimentos apenas nos poemas, pois poeta que sou não sei amar.
Sou tão experiente que nunca passei. Escrevo tanto, pois sei que errei. Meu amor é o tato que te escreve em fases que passo sem saber recomeçar. Sem olhar para trás não deixo o tempo me mostrar.
Já passei pelo ilusionismo e até mesmo pela depreciação. Hoje sou profissional e rastejo-me pelo chão. E chego ao romantismo sem nem mesmo ter alguma noção. Relação, abandono de um ser. Estou descobrindo se sou eu ou se é você.
Nós, assim como nós somos, movidos por sentimentos de ser poetas e não aprender o que é amar.
Eu assim como sou e assim como estou, sem saber aprender, sem ter onde subir para se jogar. Tentando dizer:

Andino – Cansei-me de não saber viver.

Deus! Deu a mim a mais bela das perfeições numa forma que aparenta imperfeições de uma vida cheia de graça. Em uma noite vazia onde a luz que iluminava, leve, atordoante e calma, estragou a minha perfeição sem graça.
Contínuo foi o tratamento. Restaram-se apenas fragmentos incolores de uma vida cheia de cor. Sei que não teve culpa, mas todo o momento que vivemos nós inventamos uma nova forma de amor.
Dormi ontem para ver o amanhã. E hoje descobri que o amanhã é apenas o dia que vem.
A toda a alma é tocada uma lágrima. Lágrima essa que nos deixa sempre na manhã que virá e nunca no hoje que estará. Indo sempre com você eu viverei do dia para a noite, esquecendo que o amanhã virá e viverei o hoje. Começando desde já.
Passamos bom tempo sem nos ver. Élle em seus afazeres de princesa e eu tentando sobreviver. Reencontrei-a certo dia o que me fez sentir muito bem.
Hoje a felicidade veio à tona. Superlotação, vaga no trem escasso. Veio e me deixou na lona, nocaute no expresso do passado.
A chuva não me molha mais, o sol queima apenas o teu corpo deixando marcas que me faz sorrir apenas nas lágrimas dos outros.
Lágrimas que não enxergam o medo vindo do céu, nem o temor vindo do inferno, apenas o calor que vem do teu sabor.
Após longo confronto de identidade eu soltei a corda da serenidade. Soltei e gritei. Voltei para ficar, voltei para o seu olhar. Mas dessa vez não lhe digo o que fazer, nem direi a mim mesmo. Seguirei meu coração, minha mente, meu cordão que segura a esperança de te convidar para a minha dança.
Sei que não irei mais lhe perder, eu não perderei você. Vou a traz do seu olhar, pois sei que vou lhe conquistar.
Dou-lhe de uma semana e mais duas se quiser. Um dia a mais se não puder. Siga o seu caminho e irá me dizer.
Dê-me uma resposta qualquer em um dia de fé, um dia que me responda. Amargando a minha luz, responda-me, meu amor. Onde que estou caminhando? Indo e vindo sempre com uma certeza. Meu caminho que achava certo, agora já não tem tanta firmeza.
Ah! Deus... onde é que estarei amanhã? Minha mãe não me diz nada. As minhas palavras já não significam muito. Inserido a minha loucura, só me resta a amargura.
Bem mesmo está é você, esticando as pernas na sua lua de mel. Lua do diabo que me toca todos os dias, assim eu vivo somente a me resolver. Da mais bela anarquia em mim surgiu você.
Perfeitamente injusto e sempre dizendo imundo “Resto, sigam-me”. Feito que não ocorreu e percebi que você sou eu. Imperfeitamente me apareceu com o rosto que eu sempre escondia. Onde há você estamos nós. E mais uma vez... Por que deus, se não o Homem que está a sua voz?
Quero te encontrar Élle, mas não sei onde estou. Num completar de olhos, um sentimento que magoa. Meus olhos querem te segurar, ainda que minhas mãos nada façam.
Fomos nascidos assim, para nos completar ou nada teria mais graça. Ruídos dentro de mim me paralisam, assim somos nós.
Querendo e nada fazendo, uma vez sentindo e apenas regredindo.
Ainda assim penso em te segurar. Ainda assim nada posso te dar. Raciono os meus atos e ainda assim nada tenho a racionar. Não queria ter a certeza que tenho. Ainda assim tenho a certeza que não sei te amar.
Com o tempo estou mudando. Sei que não posso mais chorar. Não posso chorar. Sorrindo eu vou sofrer, mas sem nunca parar. Há muito tempo deixei de sentir.
Não sinto mais cócegas nos pés, nem tenho medo do escuro. Não jogo mais com a parede, minha ex-eterna rival.
Num passe de mágica, mágica sabida, deixaram-me cego, largado nessa vida.
A própria Élle já se tornou parte do meu passado. Vemos-nos agora tão raramente. Sua vida profana é tão diferente da minha solidão santa. Talvez não tão santa.

Comentários

Postagens mais visitadas