A História de Andino - 2º ATO (parte 3)

Estou andando na rua com um pé na lua. Ouço uma voz que diz “A vida continua”. Pergunto a mim mesmo até quando irei. Se daqui eu termino ou daqui apenas comecei.
Viver na certeza do que quero ser é diferente do que sou, mas como farei isso se não dou o “braço a torcer”? A hora da escolha chegou.

Se me sinto melhor é porque me esqueci da dor, se ela vem é porque me distraí. Atravesso a rua e vejo que ela ainda não passou. Então fico parado para deixa-la na minha frente prosseguir.
Quero ser controlado por mim mesmo, ter o controle de mim mesmo. Não é o tempo que manda.
Mas subitamente volto a viver assim, um dia em minha mente é demais para mim. Eu poderia simplesmente fazer o que minha mente quer, mas não é isso que quero para mim.
Sinto uma influência tomando conta de meu ser, o que eu faço não é o que quero fazer, mas me aprisiono, pois o meu poeta nunca me viu. Já são sete trancas, será que um dia sairei daqui?
Quero ser controlado por mim mesmo, ter o controle de mim mesmo. Não é o tempo que manda.
Esqueci-me que é a minha cabeça que está aqui. Havia me esquecido, minha mente é que traz a dor. É tão doloroso ter sofrido demais para mudar algo e mesmo assim mudar.
Lutando contra mim mesmo todo o dia, lutando contra a correnteza, limpando a água que surgia para ver se um dia chego à fonte para ver toda a beleza.
É demagogia dizer “O que é demagogia?”. Ser preponderante diante da humildade tem haver com a disparidade do antagonismo?
Postura se deve ter diante de qual situação? Em frente aos livros ou com uma taça de vinho na mão?
Ao lado incorrigível de nós mesmos uma atenção:

Andino – Adeus! Pode ir, mas irá sozinho pela contramão.

Buscar o indivíduo que somos leva tempo e às vezes dinheiro. Encontrá-lo pode trazer dor, não encontrá-lo pode doer mais ainda. Odiá-lo pode ser fatal.
Hoje eu estou indo para casa me esconder no guarda-roupa. Vou ficar bem quieto, quem sabe assim ninguém me encontra.
De dia, antes das seis, levei um susto por causa de Élle. Cheguei ao teatro na seção das dez e ela foi em outra. Esbarramo-nos meio que sem querer entre todo o vai e vem.
Amanhã também irei lhe ver por um longo tempo para nunca mais esquecer. E hoje ainda lembro como se fosse todo dia, você pedia a mim um sorriso e só de birra eu não sorria.
Tanto tempo longe da estrada me fez esquecer como é viajar em seus pequenos olhos, que nunca vi algo tão sem par. A não ser quando com o espelho eu me deparava. Ali eu via seu reflexo e a conta que mudaria a matemática.
Mora outra garota duas ou três casa a baixo, quando está frio ou está quente, toda hora que levanto ou sento, ela vem a minha mente.
Erro a conta, não sei bem direito onde ela mora, só para não falar quantos passos dá do meu portão até a sua mesa de jantar. Fico ansioso a semana inteira. Do quarto a vejo passando, a coisa vai piorando.
Acordo cedo com ela, com seus cabelos. O seu cheiro é tão doce que eu poderia passar daqui para o infinito só por ela. Nada mais pode mudar já que não é concreto, o imóvel fictício e a planta estarão como eu desejar.
Mas esqueço que ao meu redor e ao seu existe um mundo que ainda não morreu.
Passa de novo na minha frente, olho no seu olho. Nem invente. Pois você já me viu, mas seguiu em frente.
Desejo que você tenha um pouco de coragem, deixe a porta aberta, eu já vou entrar.
Ansiedade é fraqueza, paciência fortaleza. Tudo isso só porque:

Andino – Vi você me olhar!

Outras passaram por minha vida.
O brilho luminoso que vem do alto, num raio de luz que cruza todo o céu. Passa montes, pastos, casas de montanhas. Sobre o rio se vê passando, as correntes da cachoeira não são mais rápidas. O mar é pequeno diante do caminho percorrido. Passou, olhei para cima e nem vi. É silencioso e discreto. Vem para atingir o seu alvo e o seu alvo é o sorriso da crente. Era branco, agora é impossível de se olhar. Lindo sorriso me causa não sei o que. Causa-me, causa. O lindo sorriso dela ofuscou o raio de luz.
As outras eram lindas, fogosas, inocentes, eram diversas. Eram outras, nenhuma era Élle.
A forma é um sublime relicário em todos os seus sentidos. A palavra que dá gosto à imaginação e aos olhos dá a visão.
Vejo e enxergo, não observo. Quando sim entendo. Daí é que vêm os mais profundos pensamentos.
A forma com que Élle delineia o seu sorriso aspira todos os clichês criados e a silhueta de teu corpo, todos os mesmos não falados. Seu olhar intrigantemente falado diz:

Élle – Olhe-me e deixe-me olhar o seu lado.

Diferentemente de outras, você o faz com autoridade e respaldo.
Chamar de utopia é se tornar em tal... Paro por aqui, lembrei-me da possibilidade do erro e é isso que traz o mal. Ah! Não que eu não saiba perder, mas o segredo da vitória é focalizar nela e no caso seria mesmo em você.
Preciso de um manual para aprender como devo ser. Preciso de um manual para saber o que fazer. Que me dê alguns toques de vez em quando, pois já aprendi a aprender.
Que diga o que devo sentir em relação a você. Que me fale a hora exata de, e do que, fazer. Que me ensine o que devo sentir. Que mostre do que devo sair.
Algo que explique como aos outros tratar, pois tenho certa dificuldade com isso, devido algumas conseqüências de problemas no lar. Preciso de algo que me fale como vou indo.
Preciso algo para aqui finalizar, pois a necessidade inútil não quer ser, mas será se dela nada resultar. Preciso aprender como viver.
Do que me serve ser mordomo? De que me serve ser puto? Não sirvo ninguém em lugar nenhum e não saio com ninguém aos pulos.
Na minha boca ferve os maus dizeres. Não me bastam as desgraças naturais dos seres, tenho ainda que me atracar em outros desprazeres. Assim... Assim vou levando a vida.
Desprezo a mim mesmo, não eu, porém a mim, que subjugo tudo e todos. Alento maldito há de ter fim.
Há outros que são mordomos efetivos, servem seus patronos em lugares perdidos ou simplesmente ficam de um lado para outro sem sentido. E muito embora despojados dos fétidos maldizeres estejam, caem e derrubam em cima de seus patronos a taça de vinho da sua própria mão.
Os putos como toda a raça dominante dormem com os faustos e não possuem nem tambores para anunciar seus senhores. Então ficam perdidos em seus labores.
Para mim, lamento esses horrores. Sou um horror também. Lamento feito dores me desatinam e fico a mercê dos donos do vintém.
Era um segredo, não sei bem direito explicar o que pensei que era. Disseram-me que se eu achasse seria premiado. Não tinha pistas, não sabia onde procurar. Juntei-me a um amigo e saímos nas proximidades da Universidade. Fomos perto de uma nascente de águas. Achei atrás de uma pedra um peixe de material particular, era como um chaveiro, na parte de traz tinha um risco. Notei que era oco, girei a parte de traz. O peixe era amarelo. Dentro dele uma peça transparente, parecia fazer parte de um todo. Mas, qual todo? E ainda mais, onde está esse todo?
Acordei no meio do sonho. Não achei mais o todo. E nunca mais sonhei que achara uma parte dele.

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