A História de Samuel e Helen - parte 10

Samuel acorda assustado.


- Calma, filho. Estou aqui. Não tenha medo. – diz o pai de Samuel.
- Onde está a menina Helen? – pergunta o chefe.

Os olhos de Samuel se enchem de lágrimas, enquanto explica tudo que aconteceu.

- Agora só nos resta lamentar. – diz o chefe. – Eu sabia que mais dia, menos dia isso ainda ia acontecer. Os brancos levaram a menina branca. E não a nada que possamos fazer.

Samuel levanta de súbito e sai da casa correndo.

- Ele vai ficar triste por muito tempo. – diz o pai de Samuel.

Ao chegar ao pé de um monte onde costumava passar o tempo com Helen, Samuel se sente sob pressão, sente-se covarde por ter voltado, como se o mundo inteiro estivesse falando de sua covardia. Como se o seu próprio povo fosse contra ele, pois ele nada fez para evitar com que Helen fosse pega. Ele agora se sentia um traidor. Sentiu-se em meio a grandes paredes. Sentiu seu choro mais fraco do que de um cordeiro.
A solidão após todos esses longos anos de amizade foi terrível. Samuel não queria mais sofrer tribulações, não queria estar mais em perigo entre os seus inimigos. Ele era como o falso que presta falso testemunho, as dores de seus ferimentos desatinaram e fizeram com que ele sentisse uma dor tremenda e tremesse de medo.
E ali esteve Samuel, por um longo tempo. E habitou ali e seu pai fez uma tenda para ele. E levava comida para Samuel.

No domingo de manhã a avó de Helen a acorda dizendo que toda a família já está pronta, falta somente ela.

- Pronta para quê? – indaga Helen.
- Como para o quê? Para ir à igreja. – responde sua avó.

Mesmo sem querer ela é obrigada a se vestir para ir à igreja. Já no caminho as pessoas vão até a família de Helen para cumprimentarem-na. Chegando eles são avisados que há espaço para a família sentar nos primeiros bancos da igreja.

A prédica começa e todos estão animados e ansiosos. A igreja nunca esteve tão cheia. João Carlos já não é mais o pastor.

- Hoje é um dia exultante. – diz o pastor – Sou muito feliz por ver essa igreja lotada. Por vocês estarem na casa do Senhor neste dia. Vamos dar um amém de alegria.
- Amém. – fala a congregação em coro.
- Viva! Glória, aleluia. – fala o pastor levantando as mãos para o céu. – Quantos de vocês trouxeram um familiar? Sei que muitos. Quantos de vocês estão recebendo as bênçãos do Senhor. Sei que muitos. Não há mais pobres entre agente. A pobreza foi embora de nosso coração. Agora somos ricos e podemos cantar de alegria.

A congregação canta de alegria, levantando as mãos para cima.

- Muito bem. Agora, quem de vocês quer ter mais felicidade e riqueza na vida? É simples, paguem o dízimo. Deem tudo o quanto vocês tem e o Senhor vai pagar vocês com Suas Santas bênçãos.
- Hoje vou mostrar para vocês como é que pagar o dízimo nos ajuda a alcançar as graças do Senhor. Vocês verão uma história linda de fidelidade ao Senhor, história que rendeu uma bênção incrível.

O pastor prega naquele dia ensinamentos que sempre giram em torno da história de Helen. Até chegar dado momento em que ele chama a avó de Helen para falar para toda a congregação.

- Então a senhora testemunhou um milagre em sua vida.
- Sim, o maior milagre que já vi na vida. – diz a avó de Helen.
- Ao que você atribui esse milagre?
- Se não fosse eu pagar meu dízimo, tenho certeza que não receberia essa bênção.
- Como começou essa história toda? – pergunta o pastor.
- Bem... tudo começou tem uns 10 anos atrás, não me lembro da data correta. Um belo dia meu filho resolveu ir com sua família visitar os pais de minha nora junto com sua mulher e filha, a pequena Helen. Os pais de minha nora não moram na cidade santa de Boêria. Mas moram no mundo. E o mundo os tragou e não os largou. E quando eles foram, junto com minha netinha, para o mundo, o mundo se alegrou e deu a recompensa de quem vai ao mundo.
- Então que dizer – a inquiri o pastor – que há aproximadamente 10 anos atrás seu filho, sua nora e sua neta sumiram? E nem deram sinal de vida?
- Foi isso mesmo, pastor. – a avó de Helen começa a chorar - Desde aquele tempo em que não soubemos mais notícias da minha família. Tinha sido a maior perda, minha neta Helen era tudo para mim.
- E como foi passar todos esses anos?
- Bem... Foi horrível. Pouco tempo depois meu marido morreu de tristeza e fiquei sozinha. Não fossem meus outros dois filhos, eu não teria suportado a dor. Eu perdi as esperanças.
- É muito triste realmente. E nessa tristeza que você sentia como estava o seu relacionamento com o Senhor.
- Eu sempre fui fiel a Ele. Nunca deixei de vir à Sua casa. Nunca deixei de pagar o dízimo.
- E por que você fazia isso? – pergunta o pastor.
- Por que eu tinha esperanças. Eu sabia que um dia o Senhor ia trazê-la de volta para a família dela.
- E após todos esses anos sua esperança e fidelidade para com a igreja foi recompensada. Quero que vocês deem uma salva de palmas para a menina Helen.

Todos começam a bater palmas, mas param quando Helen entra pelo portão da frente. Ela está vestida como se fosse uma princesa com um vestido todo branco, que contrasta com sua pele morena. Todos a olham e começam a comentar entre si a aparição da menina Helen.

Ao rever a visão da igreja por dentro Helen começa a ter um remogo, ou uma luta interna contra o pecado do pensamento. Ela não queria estar ali, ao mesmo tempo ela queria destruir tudo e todos, mas ao mesmo tempo ela estava ali. Seu querer não bastava contra seu medo e pavor. A criança Helen não estava realmente de volta. Pois se fosse ela quando criança, já teria saído de lá correndo. Neste remogo, ela saiu derrotada.

Com a Bíblia na mão e um grande esforço para entendê-la, Samuel habitou na tenda. Ele procurava um sentido em todos as letras, que para ele eram símbolos. O chefe da aldeia mandou que trouxessem um professor da cidade dos brancos, para ensiná-lo a ler. Aos poucos ele foi entendendo as palavras.

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