A História de Samuel e Helen - parte 4

Amanhece o dia na aldeia. O pai de Samuel o chama para se aprontarem para caçar.


- Samuel, acorde! O sol já está no céu. Temos que nos preparar para caçar.
- Já estou pronto, pai.
- Já? Você levantou mais cedo?
- Eu não dormi.
- Por que você não dormiu?
- É... eu estava sem sono.
- Sem sono? Conte essa história direito, menino.
- A Helen foi embora.
- O que? – espanta-se o pai de Samuel – Como? Pra onde?
- Eu dei o mapa do chefe para ela encontrar a cidade dos brancos.
- Ela é só uma criança. Para onde ela foi?
- Para o norte, ela vai atravessar o deserto. – disse Helen.

O pai de Samuel corre até a casa do chefe da aldeia e conta-lhe o ocorrido.

- Para o deserto? Mas ela é só uma menina e branca por sinal. – diz o chefe da aldeia.
- Eu sei, temos que ir atrás dela agora. – diz o pai de Samuel.
- Sim, sim. Vamos agora. Homens! – aparecem dois servos do chefe – Nós vamos sair o mais rápido possível para resgatar a menina branca do deserto.

Em pouco tempo o chefe, seus dois servos e o pai de Samuel estavam em frente a casa do chefe com todos os aparatos necessários para sair em busca de Helen. Cantis, bolsas com roupas, proteção para o sol e arcos e flechas.

- O que está acontecendo? – pergunta uma mulher da aldeia.
- A menina branca foi para o deserto. – diz o chefe.
- Nossa! Ela vai morrer lá. – diz a mulher – Aquele deserto já matou muitos homens, quanto mais uma menininha como ela.
- Pois é... é isso mesmo. Nós não vamos perder ela, digo, ela está aqui e eu tenho que fazer alguma coisa. – diz o chefe.

Aos poucos as pessoas se aglomeram e não houve quem não se preocupasse com a menina Helen. Eles partem para o deserto, rumo ao norte. Caminham por horas debaixo do sol forte. Após horas de busca eles encontram jogado no chão a Bíblia dela.

- Vejam, achei o livro da menina. – diz o pai de Samuel.
- Ela não deve estar longe. – diz um dos servos.

Ao caminharem por mais algum tempo avistam ao longe um monte e ao pé do monte está uma casa velho, com uns carros velhos amontoados.

- Vejam! Salteadores, ela deve ter sido levada para lá. – diz o pai de Samuel
- Nós vamos de frente, pois não tememos ninguém. – diz o chefe.

Ao se aproximarem, ouvem gritos que parecem ser de Helen. O pai de Samuel sai correndo em direção a casa, os outros também correm. Ele abre a porta com um chute e vê dois homens amordaçando Helen.

- Soltem ela! – grita o pai de Samuel.

Um dos homens saca uma arma e ao mesmo tempo o pai de Samuel corre em sua direção, o homem atira e pega de raspão no braço do pai de Samuel. Ele então agarra a arma e tira de sua direção e dá um soco com a outra mão. O outro homem assustado foge por uma janela que está atrás dele.

- Vão pegar ele! – diz o chefe.

Samuel bate muito no homem e só para quando o chefe o agarra.

- Pronto, Mateo! Pronto! Já chega.

O pai de Samuel atônito com a situação fica aéreo por alguns segundos, passado isso ele olha para Helen e a solta.

- Machucaram você? – pergunta o pai de Samuel.
- Não. – chora Helen – Eles estavam me amarrando.
- Está tudo bem agora, a gente está aqui. – diz o pai de Samuel tentando acalmá-la.

Os dois servos do chefe entram na casa.

- Ele fugiu no deserto, pegou um carro e se foi. – diz um dos servos.
- Já estamos com a menina branca, vamos para casa. – diz o chefe.
- Helen, me diga. – diz o pai de Samuel – Por que você fez isso?
- Eu queria encontrar minha família.
- Se eu pudesse eu levava você para sua casa, mas não sei onde é. – diz o pai de Samuel.
- Não precisa mais, agora sei quem é minha família. – diz Helen.

Ao chegar à aldeia, todos estão ansiosos esperando as boas notícias e quando ficaram sabendo que Helen estava bem, todos se alegraram. Pela noite fizeram uma grande festa em comemoração à volta de Helen. Todos estão dançando, comendo e bebendo de felicidade.

- Eu quero falar! – diz o chefe e após todos se calam – Essa menina branca, que mais uma dessas e ela não vai mais ser branca, ela tem nos ajudado muito. E eu gosto dela. Vamos todos cantar para ela.

Então festejaram a noite inteira. Já em casa, ao final da comemoração, Samuel diz a Helen:

- Eu fiquei muito preocupado com você. Não conseguia dormir, nem comer e nem fazer nada. Não quero que você vá embora.
- Eu estava triste e querendo encontrar minha família.
- A gente é a sua família. – diz Samuel.
- Tá bom.

A menina Helen apesar de ser uma criança, já entendia o significado da dor e da perda. Apesar de gostar de todos os da aldeia, a falta que sentia de sua antiga vida ainda era maior.
Certo dia Helen decidiu fazer como o pastor João falava, “pregar a palavra de Deus a todos”. Começou com as pessoas comuns da aldeia, visitando-os de casa em casa, falando as palavras que sempre ouvia nas igrejas e em casa. Não demorou muito para o chefe da aldeia a censurar, mas foi preciso fazê-lo várias vezes.

Helen ainda causou muita confusão por falar sempre de Deus. Mas as pessoas daquela aldeia acabaram fazendo uma relação entre o Grande Espírito, o deus que eles adoravam e o Deus dos cristãos.
À medida que foi crescendo Helen foi incutindo sua cultura passiva e cristã em meio aquele povo preguiçoso e selvagem.

- Eu não sei o que são grãos e frutas. – curioso diz Samuel.
- Nós vamos procurar árvores verdes, Samuel. E então pegar suas frutas e vamos procurar plantações de trigo, milho e vamos plantá-los. Minha mãe me ensinou a fazer uma horta quando ela ainda era viva...

Depois de dias e dias procurando, eles acham tudo o que Helen procurava. E foram para o lado da aldeia cultivar a terra.

- Essa terra é muito ruim para algo nascer aqui. – diz Helen.
- Eu nasci aqui – confunde-se Samuel – eu não sou ruim.
- Não estou dizendo de você. As coisas que pegamos precisa de uma terra mais fofa para nascer. Eu já volto...

Helen vai correndo para casa do chefe, pede para falar com ele e diz:

- Chefe... preciso de sua ajuda.
- Diga menina branca.
- Preciso que todo mundo peça para o Grande Espírito que chova aqui nesta terra. Assim poderemos cultivar a terra.
- Como é que é? – estranha o chefe.
- Minha mãe diz que podemos pedir qualquer coisa ao Grande Espírito que Ele nos dará.
- E como vamos pedir?
- Você vai chamar todo mundo da aldeia, todo mundo vai baixar a cabeça, fechar os olhos e eu vou falar com o Grande Espírito.
- Então vamos fazer isso.

O chefe reúne todos os homens, mulheres e crianças da aldeia em frente a sua casa.

- Estamos aqui para falar com o Grande Espírito. – diz o chefe – Ouçam o que a menina branca tem para dizer.
- O tempo em que estou aqui vi que vocês são um povo muito bom e querem aprender. Agora nós vamos pedir ao Grande Espírito para fazer chover, daí poderemos cultivar a terra e plantar grãos e frutas. Todos vocês, fechem os olhos e digam “amém” depois que eu falar “amém”.
Pai que está no céu. Sabemos que o senhor é Deus. E nos ajuda bastante. Você cuida de nós que estamos aqui e dos que já partiram. Pai, nós precisamos de você porque queremos cultivar a terra. Faz chover. Em nome de Jesus Cristo, amém.

Logo em seguida nuvens vieram de todos os lados trazendo a chuva e fazendo aquele povo querer saber mais sobre quem é Aquele para quem oraram.

Com a ajuda de Samuel e de toda a aldeia ela cultivou a terra que produziu várias espécies de grãos e frutas e também encontrou cavalos para montar, gado para cuidar. Helen ensinou mais o povo a respeito do Grande Espírito. Vendo isso o chefe da aldeia muito se alegrou, pois pensou ser a menina enviada pelo Grande Espírito. Porém ele não lhe dirigia a palavra, por não saber o que falar. Certo dia Helen apareceu em sua casa dizendo:

- Olá Chefe! Tenho algo pra dizer pra você.
- Diga, menina. O que posso fazer por você?
- Eu encontrei gado longe daqui, por trás das montanhas. Preciso de dois homens para me ajudar e dois cavalos também. – diz a moça Helen.
- Você pode ter. Mas antes me responda uma coisa. – o chefe fica em silêncio por alguns instantes.
- Pode perguntar Chefe.
- Você foi enviada pelo Grande Espírito? Com que poder ordena aos cavalos que se ajuntem e eles se ajuntam; com que poder fala para as coisas da terra nascer e elas nascem? E mais, com que poder você pede para chover e chove.

Ora, Helen já crescia em entendimento e era rápida no pensar.

- Você vai acreditar em todas as palavras que eu te disser?
- Sim, vou acreditar. – responde-lhe o chefe.
- Vocês acreditam no Grande Espírito e eu em Deus. Esses dois são os mesmos. Você acredita nisso?
- Sim. – ele lhe respondeu.
- O Grande Espírito é o grande criador de todos os animais, do céu, de tudo. Ele mora no céu. E esse livro, que sempre carrego comigo, é a palavra Dele.

Espantado o chefe pergunta:

- Então esse livro foi escrito pelo Grande Espírito.
- Sim – diz Helen – Ele mandou algumas pessoas escreverem por Ele. Para nós entendermos o que está escrito.
- Então leia o livro para mim. – ansioso, pede o chefe.
- Eu não posso.
- Por quê?
- Eu não sei ler. Apesar de que as jovens da minha idade, onde eu vivia, já devem saber ler, eu não sei.
- O que você precisa para aprender a ler?
- Um professor. – responde-lhe Helen.
- Sei que tem uma cidade de brancos longe daqui. Você irá lá para aprender a ler e depois voltará. Então você ensinará o que o Grande Espírito tem a ensinar para nosso povo.
- Eu farei isso.
- Chefe... – então Helen o olha com olhar intrigado – quero perguntar uma coisa.
- Pode perguntar, menina.
- Porque aqui só tem... – ela faz uma pausa sem saber como dizer.
- Só tem... – o chefe espera a pergunta.
- É que na minha cidade só tem pessoas como eu.
- Você diz branca?
- Sim. E aqui não tem ninguém igual a mim.
- Nossos pais ensinaram que os brancos não gostam de negros. E é por isso que nos desprezam e não nos deixa viver perto deles.
- Não acho que isso seja verdade, meus pais gostam de todo mundo.
- Você ainda vai aprender a verdade, Helen.

Comentários

Postagens mais visitadas