A História de Samuel e Helen - parte 16

Os cidadãos que protestavam se reencontraram com Samuel e Helen fora da cidade. E um deles lhes falou assim dizendo:


- Há muito esperávamos ajuda divina para conduzir esse povo de volta para o caminho que eles perverteram. Sei agora que o caminho que procuramos está junto ao de vocês, portanto onde forem iremos juntos. E suceda que vocês não queiram que os sigamos, estaremos de longe nos passos seus, pois sabemos que o Senhor Deus está com vocês, portanto onde mais poderíamos estar?

E aconteceu que depois de assim falar, disse Samuel:

- É tua a glória, oh meu pai.

E todos se ajoelharam e oraram ao seu Deus, que é o mesmo em comum.
Enquanto estavam assim orando, eis que Samuel levantou e viu uma multidão de pessoas e eis que o exército de Boêria ia de encontro com os que ali estavam.

- Apressem-se – diz Samuel aos que estavam com eles – um exército vem ao nosso encontro.

E o número do exército era muito maior do que aqueles poucos que fugiram da cidade, sim, até dez vezes mais. Mas não temiam por suas próprias vidas, pois confiavam em seu Deus. Aquele pequeno grupo de fiéis começou sua jornada na direção contrária ao exército, rumo à aldeia.

Não obstante, o exército de Boêria era feito de homens fortes e todos estavam obstinados, pois criam que era por causa da traição daqueles que fugiram da cidade para seguir as palavras que Samuel disse, sim, por causa desses e de Samuel, acreditavam eles, que o seu Deus os castigou. E eles queriam matar a todos, a fim de que o castigo de Deus fosse retirado deles. Esse exército marchou por diversos dias, mas aquele pequeno povo era mais ágil. Por isso decidiram mandar um pequeno grupo de soldados no meio da noite para matar a Samuel, acreditando que sem o líder eles se confundiriam.

Em meio ao deserto e ao frio da madrugada os seguidores de Samuel dormiam à beira da estrada quase todos, exceto três que vigiavam. O pequeno grupo do exército de Bôeria demorou a noite toda para chegar perto deles e dar a volta, a fim de atacá-los por trás. E havia somente um homem vigiando naquela parte, esse homem estava quase adormecido. O pequeno exército estava se aproximando na calada da noite e quando se aproximava, o homem que vigiava os viu e gritou avisando a todos do ataque.

Todos levantaram confusos, Samuel gritou para que todos os seguissem e correu para fora da estrada. Muitos eram os que estavam com eles e eram homens, mulheres e crianças. Mas nem todos conseguiram escapar do ataque e muitos morreram naquela noite e o sangue deles manchou a estrada.
O pequeno exército, porém, não foi atrás de Samuel e seus seguidores, pois temiam o deserto a noite. Depois de muito correrem, Samuel e os que o seguiam, pararam no meio do deserto e tudo era escuro. Não se enxergava mais nem as luzes das fogueiras que os aqueciam.

- O que faremos, Samuel? – assustada, pergunta Helen.
- Nós estaremos protegidos aqui, pela manhã caminharemos para a aldeia. Mas agora descansaremos.

E todos deitaram ali mesmo onde chegaram, mas o frio da madrugada fazia com que tremessem os ossos e todos deitaram perto um do outro, pois passavam muito frio. A noite foi sombria, os animais os rodeavam a todos os instantes, aqueles que ficaram de guarda logo caiam no sono e eles ficaram desprotegidos a noite toda. Logo a noite se foi e o Sol os acordou ingratamente. Samuel vendo que o número de pessoas tinha se reduzido extremamente, sim, eram tão poucos que podiam ser contados e dezesseis eram o seu número. E viu também Samuel que vários estavam feridos e sangravam, mas ninguém havia que podia fazer curativos e nem mesmo havia material para fazê-lo. E aconteceu que Samuel chorou.

Mas ao se levantar notou uma mulher que estava com um bebê no colo. A mulher não chorava, mas sorria. Sim, de modo que fazia o seu próprio bebê sorrir. O coração de Samuel foi tocado e assim ele pensou:

- Como posso eu sofrer se somos todos bebês? Não estamos nos braços de nosso Deus? Sim, eis que estamos. Por isso prefiro me alegrar em vez de chorar. Apesar de termos muito que chorar pela dor de nossos irmão, ainda precisamos enfrentar uma jornada muito desgastante.
Ao se aproximar da mulher com um bebê no colo ele nota um grande ferimento nela.

- Você está muito ferida!
- Chiu, vai acordar o bebê. Foi um custo muito alto fazê-lo dormir. Ele não é meu, mas a mãe dele me entregou quando estávamos tentando fugir ontem a noite. – diz a mulher.
- Ele tem um nome? – pergunta Samuel.
- Eu não sei.
- Vejo que realmente você entende o que contém nas escrituras sagradas. Não há amor maior do que o seu, o de enfrentar a própria morte pelo bem estar do próximo.

Eles retomaram a caminhada.

- Todos os homens, peguem pedras pesadas. Quando os cães do deserto se aproximarem, os mataremos e nos alimentaremos.

Aconteceu que não demorou muito para os canídeos do deserto sentirem o sangue dos feridos. E eis que uma manada deles caiu sobre eles, de modo que puderam feri-los, mas com as pedras nas mãos os afastaram.

- Eles me morderam. – diz uma mulher que estava com o bebê.
- Está bem feio. – diz Helen. – Não temos o que fazer.
- Deixem-me e salvem suas vidas, levem o bebê.
- Nós estamos juntos nessa. – diz Helen – ninguém ficará para trás.
- Obrigado. – diz a mulher com lágrimas nos olhos.

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