A História de Samuel e Helen - parte 15

Helen acorda na delegacia. Assustada olha de um lado para outro tentando entender o que aconteceu. Vê Samuel na mesma cela do que ela e corre para seus braços.


- Nos pegaram de novo.
- Sim, agora devemos esperar um milagre. – diz o confiante Samuel.
- Que bom que você está bem.
- Nos colocaram na mesma cela, a outra está quebrada.
- O que aconteceu?
- Nós capotamos e os policias nos pegaram. Eu estava muito preocupado com você. Daí nos trouxeram para cá.
- Ai! Samuel. O que faremos agora? Está tudo perdido, vamos ficar presos aqui até decidirem acabar com a gente.
- Duvido que eles façam algum mal contra você.
- O maior mal que podem fazer a mim é tirar você de mim.

Os guardas estão calados, a cidade já adormece em meio a madrugada e Samuel e Helen estão presos em uma cela da delegacia da cidade de Boêria. Todo o mal está acontecendo com eles, menos o de tirarem um do outro. Com medo, Helen se agarra ao sentimento que ela tem por Samuel. Ela sofre por duvidar que eles consigam se livrar dessa vez. Samuel pega a mão de Helen e ajoelha a incentivando a fazer o mesmo. Samuel ora.

E enquanto estavam assim, orando por ajuda divina, no mais profundo dos sentimentos; sim, clamando com fervor e de toda a sua alma que a misericórdia divina se estendesse a eles para que possam voltar para suas casas, sim a fim de verem seu lar, sua família, sim, pois Helen considerava os da aldeia a sua família; e enquanto estavam assim, eis que um barulho muito forte de alvoroço se instaurou por todo o lugar; sim, de tal forma com que até a terra tremia.

Era uma multidão de pessoas que protestava contra a prisão de Helen e Samuel. Cidadãos de Boêria que erguiam faixas e cartazes em prol dos dois. E não eram em grande número comparado a todos da cidade, mas eram valentes e estavam determinados.

Ora, não obstante serem apenas cidadãos, os guardas que estavam na delegacia não hesitaram em ligar para o capitão do exército da cidade de Boêria. Logo em seguida eles fecharam as portas da delegacia e armaram uma barricada e deram tiros para o rumo dos cidadãos para ameaçá-los.

- O que está acontecendo lá fora? – espanta-se Helen.
- Parece que a ajuda dos céus chegou por terra.
- Parece que estão gritando para nos soltar.

Os cidadãos não se intimidam, por trás da delegacia alguns deles começam a derrubar a parede onde estão Helen e Samuel.

No gabinete do prefeito da cidade estão os líderes da cidade e os líderes religiosos.

- Eu não acredito. O que essas pessoas estão pensando, nós nunca tivemos nenhum protesto aqui na cidade e eles vão fazer justo para um negro? – diz o prefeito.
- Nós não podemos ser conivente com a rebelião do povo de Deus. – diz um dos líderes religiosos.
- Bem, o que podemos fazer? É o povo que quer que libere aquele homem. – diz o vice-prefeito.
- Homem? E você chama aquilo de homem? – diz o prefeito.
- Nós vimos a confusão que ele criou na igreja. Foi impossível de continuar a reunião depois. – diz o líder religioso.
- O que você acha que devemos fazer, pastor? – diz o prefeito.
- É evidente que algo precisa ser feito. – diz o pastor – Mas o povo está cego. Alguém precisa abrir os olhos do povo e cabe a nós fazê-lo. Agora mesmo eles estão a protestar em prol da liberação daquele ser e daquela marginal. Não toleramos baderna na cidade de Deus. Usemo-los como exemplo do que acontece com aqueles que se rebelam.
- Está feito! – decidiu o prefeito.

Após algum tempo o exército de Boêria chega fortemente armado e sem reservas, eles atiram contra aqueles que lutam pela liberdade de Helen e Samuel. Ora, o capitão do exército sabia da intenção daquelas pessoas e havia comunicado o ocorrido ao clero da cidade e em conselho com o prefeito eles decidiram que esses cidadãos que se rebelaram contra eles serviriam de exemplo do que acontece quando se rebelam contra seus líderes, mas, logicamente, sobre o pretexto de que se rebelaram contra o seu Deus.

Os cidadãos não reagiram, não obstante começaram a ser mortos. Naquele mesmo instante, enquanto eram libertados da cadeia, Helen e Samuel viram a cena chocante de homens, mulheres e crianças sendo mortos, sem mesmo terem direito a defesa. Os dois caíram de joelhos e oraram e alta voz dizendo:

- Pai, não sejam nossos olhos participantes dessa atrocidade.

Naquele instante a luz da cidade acabou.

- O que está acontecendo? – grita o capitão do exército.
- Parece que acabou a luz na cidade inteira. – diz um soldado – se continuarmos a atirar nós acertaremos os nossos homens.
- Não parem de atirar.

No escuro os soldados se confundiram com a escuridão da noite. Os cidadãos correram todos em direção oposta a delegacia, no sentido que os levava para fora da cidade. Alguns cidadãos eram mortos a tiro. Alguns soldados também foram mortos na confusão.

Então logo após a fuga desesperada dos que protestavam, nuvens com raios pairaram sobre a cidade e uma grande chuva caiu sobre Boêria. As casas mais antigas foram simplesmente arrastadas pela força do vento, muitas casas perderam o telhado, de modo que não ouve casa que não tenha sido danificada por aquela chuva. Um raio atingiu o topo da igreja fazendo com que as esculturas que lá havia caíssem e também muitos vitrais quebraram. E muitos morreram naquele dia arrastados pelos ventos.

Ora, isso fez com que os líderes se irassem e também acendeu a ira do povo, pois diziam que Samuel tinha amaldiçoado o povo. Decidiram que se Samuel e todos aqueles que o apoiaram deveriam ser mortos para que a cidade não voltasse a ser castigada.

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