A História de Samuel e Helen - parte 7

O céu já clareou e algumas pessoas começam a sair de casa para ir aos seus trabalhos. Alguns vão a pé, outros com carros bem bonitos e ainda outros com carros bem velhos. Os dois passam despercebidos de todos.


- É melhor você falar com a gente. – diz um dos rapazes.
- Eu quero chegar na minha casa. – irritada, fala Helen.
- Onde você mora? – pergunta os rapazes.
- Eu não me lembro, faz muito tempo que não venho para Boêria.
- Ei, calma aí. Eu estou te reconhecendo. Estudei com você, até você sumir. Helen?
- Qual o seu nome?
- Jonathan... Nossa, menina! Não acredito que estou vendo você, devo estar bem loco mesmo. Bem, pela companhia que você está, quem foi passar aquelas férias no inferno foi você.
- Cala boca, Jonathan e me responde logo, onde fica minha casa?
- Tudo bem, tudo bem, não precisa ficar nervosa. Vou te levar.

E enfim chegam à frente da casa dos pais de Helen. Jonathan fala alguma coisa no ouvido do outro rapaz e o rapaz vai embora.

A mesma casa continua ali. A cor está meio amarelada, as paredes externas estão sendo tomadas por algum tipo de raiz, o mato da entrada está bem alto, as janelas estão quebradas e a caixa de correspondência está pichada. São as marcas do tempo que mostram que ela está abandonada. Helen caminha em direção à porta, abre-a, está destrancada. Lá dentro ela vê a sua casa. Algumas paredes internas também foram pichadas e logo na entrada da casa tem um mendigo dormindo no canto do hall, o cheiro ruim é forte, é um cheiro de sujeira misturado com mofo. Ela vai direto para as escadas, subindo lentamente, como se estivesse no próprio passado. O cheiro continua desagradável, mas mesmos os quadros estão ainda nas paredes. Parece que não houve quem tivesse coragem de mexer naquela casa que parecia ainda frequentada por seus antigos moradores. Após percorrer os corredores de sua casa, Helen chega à porta de seu quarto. Ela abre a porta, que faz muito barulho e vê uma garota da sua idade dormindo onde costumava a ser sua cama, a garota está dormindo em cima de um pedaço de papelão. Rapidamente ela sai dali, desce as escadas e vai para fora da casa, ela só para quando encontra Samuel a esperando na calçada. Helen o abraça e cai em prantos em seus ombros. Sua Bíblia cai no chão, Samuel a pega.

Algumas pessoas que vão chegando do outro lado da rua param e olham para os dois com olhares desconfiados. As pessoas cochicham entre si e pouco a pouco começa a chegar mais pessoas.

- Hey vocês, o que estão fazendo aqui? – pergunta um homem bravo em meio às pessoas.

Então Helen responde:

- Eu morava nesta casa. E vim procurar meus avós.

As pessoas se espantam, pois todos conhecem a história da família de Helen, que saiu de Boêria para nunca mais voltar. Quando essa história aconteceu, os líderes da cidade e o pastor João se aproveitaram para fixar um medo no coração das pessoas. Diziam eles:

- O Senhor acha prudente castigar seu povo; sim, ele prova sua paciência e fé pelo castigo. E nós temos a prova de que ele castiga até mesmo o seu povo. A infeliz história do sumiço de uma família de moradores da cidade nos prova isso. Ele não quer que vocês viajem para o mundo, seja lá qual for a intenção e até mesmo se os seus pais ou filhos estiverem no mundo, Ele não quer que vocês vão para o mundo, mas antes quer que vocês estejam longe das impurezas do mundo; sim, o mundo está perecendo em iniquidade e é necessário que vocês se arrependam e tragam o dízimo a casa do tesouro, a fim de serem perdoados; sim, ele os ferirá se não o fizerem; sim, mesmo com morte e com terror e com fome e com toda a sorte de pestilências, para que vocês se lembrem Dele. E caso voltarem para o mundo, o mesmo sucederá com todos vocês. Entretanto, quem confia Nele será elevado no último dia.

Assim dizia o pastor João a fim de conservar os seus seguidores.

- O que isso está fazendo com você? – pergunta uma mulher apontando para Samuel.
- Ele é meu amigo?

Muitas pessoas vão se aglomerando e quem está ali fala:

- Quem é esse?
- O que um negro está fazendo em Boêria?
- Como pode um imundo pisar na cidade santa?

Todos se indignam por haver alguém na cidade deles que não seja branco.

- Saia dessa cidade. Não aceitamos negros em Boêria.

Assim grita a multidão para Samuel que arregala os olhos e não entende o que está acontecendo. Seus olhos abertos contrastam com sua testa baixada e com a sua cara fechada. A multidão vai se aproximando, parece que boa parte da cidade já está ali. Samuel larga Helen e dá alguns passos para trás. E eis que uma voz fraca se faz ouvir em meio ao tumulto:

- Helen... Helen...

As pessoas vão se virando para ver quem é e veem a avó de Helen, que é uma senhora muito idosa.

- Minha netinha...
- Vovó?

Helen corre em direção à avó e dá um abraço demorado nela. As duas choram.

- Vovó, eu não acredito que estou vendo você.
- Minha querida, eu nunca perdi as esperanças em te encontrar. Venha, vamos para casa.
- Vamos. Mas meu amigo tem que vir com agente.
- Deixe esse aí, o povo cuidará dele. – diz a avó de Helen.
- Não... ele me ajudou a chegar até aqui. – diz Helen.

A avó de Helen a agarra pelo braço e tenta puxá-la. Helen estranha a atitude de sua avó, o olhar daquela inocente senhora mudou, Samuel está assustado. Então as pessoas que estão ali avançam para cima de Samuel.

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